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Ideias que valem a pena "roubar": como encontrar inspiração de negócios em lugares inesperados

Tempo de leitura:  4 Minutos

Temos muito que aprender com outras empresas; por isso, não tenha medo de usar e adaptar as melhores ideias vindas de fora, afirma Matthew Jenkin

 

Na próxima vez que você estiver em uma BMW pós-2001, dê uma rápida olhada nos controles do sistema de infoentretenimento de última geração. Se eles parecem familiares, é porque são. O sistema iDrive da BMW é inspirado na indústria de videogames, especificamente o controlador de mão preferido dos gamers no mundo todo.

Projetado para ser o mais intuitivo possível, é um modo fácil de operar a navegação relativamente complexa do carro, mantendo os olhos na estrada. Qualquer um que já tenha usado um controle de Playstation deve logo ficar à vontade com o sistema do carro.

Esse tipo de inovação entre setores, em que uma empresa busca novas abordagens fora de seu setor e as aplica ao seu próprio contexto comercial, está se tornando cada vez mais popular em nosso mundo interconectado.

A GE Healthcare, por exemplo, buscou a indústria de parques temáticos(1) para tornar os scanners de ressonância magnética menos assustadores para as crianças. Ao projetar máquinas que pareciam navios piratas ou submarinos e tentar criar uma história em torno da experiência, houve uma redução significativa de pacientes jovens que precisam de sedação.

Enquanto isso, Owen Maclaren(2), engenheiro aeronáutico aposentado e piloto de testes que trabalhou no Spitfire, usou o conceito do trem de pouso retrátil de um avião para desenvolver o primeiro carrinho de bebê dobrável e leve, em 1965, para ajudar os pais que sofriam com um carrinho de bebê volumoso ao entrar e sair de aviões.

Ramon Vullings, coautor de Not Invented Here(3), descreve a inovação entre setores como uma “escolha inteligente e estratégica” que é crucial para o sucesso, conforme a tecnologia rompe as fronteiras tradicionais que separam os setores. O acesso ao conhecimento de outras indústrias nunca foi tão fácil.

Um aparelho de ressonância magnética da GE Healthcare

A GE Healthcare buscou a indústria de parques temáticos para tornar seus scanners de ressonância magnética menos assustadores para as crianças

 

Ideias transferíveis

Então, por onde começar? Ramon identifica três abordagens principais. O autor define a primeira delas como de fora para dentro: conhecimento e habilidades adaptados de outros setores para uso em sua própria indústria. A seguinte é intitulada de dentro para fora, na qual uma empresa analisa os "ativos" que pode exportar para outros setores. Por fim, há a abordagem associada, na qual uma empresa cria deliberadamente algo novo junto a um parceiro.

Mas como isso funciona na prática? Ramon afirma que você deve sempre perguntar o que realmente deseja inovar. Em seguida, procure outras empresas que sejam excelentes na execução da função do negócio que você deseja melhorar, pense sobre o que pode aprender com elas e decida sobre quais abordagens você pode transferir. No entanto, ele diz que a chave não é copiar e colar a inovação, mas copiar e adaptá-la.

Não limite seu foco apenas a produtos e serviços, Ramon acrescenta. Muitas vezes, uma abordagem melhor é olhar para os processos, fluxos, modelo de negócios, liderança, talvez até cultura e atitudes da empresa.

"Você pode inovar nesses níveis de modo mais impactante do que em seus produtos ou serviços principais", diz ele. "Por exemplo, uma empresa que eu conheço que trabalhava no setor de telecomunicações descobriu que o único momento de contato que tinha com seu cliente era a fatura. Assim, todas essas operadoras de telecomunicações começaram a concentrar seu mecanismo de marketing inteiro nessa fatura. A fatura tornou-se um material de marketing. Havia uma enorme oportunidade para vender mais."

Ferramentas de aprendizado

Identificar maneiras de adotar inovações entre setores pode ser uma luta para alguns, afirma Ramon. Por isso, ele desenvolveu exercícios e ferramentas on-line gratuitas(4) para ajudar os líderes empresariais a pensar fora da caixa. Por exemplo, ele ensina um jogo de palavras em que você substitui os verbos e substantivos-chave em uma questão de inovação por sinônimos ou palavras adjacentes.

Por exemplo, uma pergunta comum: "Como podemos fazer com que mais clientes visitem nossa loja?" As palavras-chave aqui seriam "cliente", "visita" e "loja". Em vez disso, a frase poderia ser: "Como podemos fazer com que mais famílias passem tempo em nosso armazém?" Ou "Como podemos fazer com que mais professores usem nosso aplicativo?" Isso tira sua pergunta do contexto original e permite que você veja novas áreas, onde a inovação entre setores pode ajudar.

O SlideShare(5) é outra mina de ouro para descobrir insights sobre o que as empresas de outros setores estão fazendo, sugere Ramon. Ele cita o exemplo de uma empresa para a qual fez consultoria, que queria imitar a marca de uma empresa de luxo. No entanto, quando contatou a marca para pedir as diretrizes oficiais, ela se recusou a compartilhar o documento. Implacável, a empresa pesquisou no SlideShare e, felizmente, havia uma cópia disponível para visualização lá.

O próximo passo depois de realizar uma pesquisa pelo seu computador é entrevistar alguém da empresa com a qual deseja aprender. Melhor ainda, visite-os pessoalmente e veja como eles administram o dia a dia dos negócios. "É aí que você vai aprender mais", diz Ramon.

Colaboração em coworking

A ascensão global dos espaços de coworking(6) significa que há ainda mais oportunidades de interagir com outras empresas fora do seu setor e compartilhar ideias, conceitos e perspectivas que podem levar a mais inovação, criatividade e lucratividade.

De fato, as evidências mostram que encontros casuais e interações não planejadas entre profissionais do conhecimento, tanto dentro quanto fora da organização, melhoram o desempenho.

Uma pesquisa em 2011 da Deskmag(7) com mais de 1.500 frequentadores de espaços coworking em 52 países mostrou que três quartos relataram um aumento na produtividade desde que passaram a frequentar um espaço de coworking; quatro de cinco relataram um aumento no tamanho de sua rede de negócios e 92% relataram um aumento no tamanho do seu círculo social.

Um estudo de um projeto de coworking financiado pela Zappos em Las Vegas também revelou que esses espaços eram ricos em oportunidades para inovações entre indústrias. Os resultados, publicados na Harvard Business Review(8), revelaram que após seis meses houve "um aumento de 42% em encontros pessoais, um aumento de 78% em propostas geradas por participantes para resolver problemas específicos e 84% de aumento no número de novos líderes: participantes que iniciaram trabalho e colaboração e desenvolveram o escopo e os objetivos do projeto."

 


Matthew Jenkin é jornalista dos EUA e ex-editor do Guardian Careers, site da comunidade do jornal The Guardian para pessoas que procuram empregos e que desejam trocar de carreira

Fontes:

(1) http://newsroom.gehealthcare.com/from-terrifying-to-terrific-creative-journey-of-the-adventure-series/

(2) http://www.bbc.co.uk/ahistoryoftheworld/objects/CngWUrn0QmuY1R4XpU-zWA

(3) https://www.amazon.co.uk/Not-Invented-Here-Cross-industry-Innovation/dp/9063693796

(4) http://www.crossindustryinnovation.com/tools/

(5) https://www.slideshare.net/

(6) http://www.smallbizlabs.com/2016/08/coworking-forecast-44-million-members-in-2020.html

(7) http://www.deskmag.com/en/all-results-of-the-global-coworking-space-survey-200

(8) https://hbr.org/2014/10/workspaces-that-move-people