Um jogo de tabuleiro de cobras e escadas

Produtividade

Agora é oficial: você pode conseguir uma promoção com o trabalho flexível

Tempo de leitura:  5 Minutos

Já sabemos que o trabalho flexível faz com que os profissionais fiquem felizes, e que profissionais felizes são mais produtivos, mas existe alguma outra vantagem? Matthew Jenkin analisa a ciência e a psicologia envolvidas na eliminação do trabalho em horário comercial e descobre que essa mudança pode impulsionar as perspectivas de carreira

 

Com seus invernos escuros e congelantes e a relativa falta de luz do sol, a Finlândia é um concorrente improvável para ocupar o posto de país mais feliz do mundo. Mesmo assim, o país conhecido pelo cinema vanguardista sem emoção ocupou o primeiro lugar da lista da ONU dos lugares mais felizes.

A nação nórdica ficou na frente das vizinhas Noruega, Dinamarca e Islândia nos rankings de 2018 do Relatório Mundial da Felicidade(1). Embora o amor deles pelas saunas possa ajudá-los a relaxar após um dia de trabalho no escritório, talvez seja a ênfase que o país dá às horas de trabalho flexíveis e às generosas licenças maternidade e paternidade que contribuiu para sua pontuação alta.

Mas a oportunidade de trabalhar quando, onde e como você quiser promove o sucesso de sua carreira e a felicidade em casa?

A resposta é um sim, sem dúvidas. Muitas evidências mostram que o trabalho flexível não só melhora o equilíbrio entre a vida e o trabalho, como também causa um impacto positivo nas finanças e gera novas oportunidades de progressão.

Um novo estudo(2) elaborado pelo Flex+Strategy Group, que ajuda empresas a criarem culturas de trabalho flexível, afirma que 60% dos funcionários dos EUA que possuem opções de trabalho flexível se sentem mais produtivos e envolvidos. Desses que trabalham de forma flexível, 45% sentem que a flexibilidade aumenta a capacidade de comunicação, criação e inovação com os colegas.

O trabalho flexível também está enriquecendo os funcionários. Um relatório do Centre for Economics and Business Research(3) descobriu que o trabalho flexível poderia eliminar 533 milhões de horas por ano do tempo de deslocamento até o trabalho, uma economia anual de 3,8 bilhões de libras para os profissionais britânicos, o que aumenta para 7,1 bilhões de libras quando o valor do tempo de deslocamento é considerado.

Uma pessoa subindo uma escada colorida

O trabalho flexível pode ajudar você a progredir em sua carreira

 

Trabalhar de forma flexível não significa receber menos. O relatório do ano passado elaborado pelo grupo de trabalho flexível Timewise revelou que o aumento de empregadores que aderiram aos cargos compartilhados resultou em um aumento de 5% entre 2016 e 2017 dos empregos de meio período com salários superiores a 40.000 libras por ano(4). Os empregadores também estão se tornando mais abertos aos cargos seniores compartilhados, sendo que dois em cada cinco gerentes que participaram da pesquisa pensam em contratar candidatos para um cargo sênior compartilhado.

Um relatório elaborado pelo IBM Smarter Workforce Institute(5) fornece mais evidências de que o trabalho flexível promove a progressão da carreira em vez de prejudicá-la. O estudo, que incluiu 3.000 mulheres e homens profissionais e gerentes do Reino Unido e dos EUA, revelou que mais participantes que trabalham de forma flexível relatam terem sido promovidos duas ou mais vezes nos últimos cinco anos em comparação àqueles que não trabalham de forma flexível (33% contra 24%).

Colocando os pais em primeiro lugar

Esses avanços positivos das oportunidades de trabalho flexível são benéficos principalmente para os pais. Ajudar as mães e os pais a trabalharem fora do horário comercial normal, permitindo que trabalhem meio período ou remotamente, pode facilitar a transição da volta ao trabalho após um período longo de licença e ajudá-los a progredir em suas carreiras.

Uma pesquisa realizada pela instituição de caridade Working Families(6) revelou que os pais cujo empregador apoia o equilíbrio entre a vida e o trabalho por meio do trabalho flexível e de outras iniciativas apresentaram uma probabilidade 65% maior de continuarem na empresa, sendo que 62% disseram estar mais motivados e produtivos e 56% disseram que dariam o máximo de si. Uma pesquisa realizada em conjunto pela Bain & Company e Chief Executive Women(7) também revelou que as mulheres (inclusive as que precisam cuidar dos filhos) se beneficiam do trabalho flexível, que está relacionado a maior probabilidade de sucesso e de promoções no trabalho.

No entanto, ainda há muito a se fazer para que as iniciativas de trabalho flexível ajudem os pais e mães a alcançarem todo o potencial de suas carreiras. De acordo com Mubeen Bhutta, chefe de políticas e campanhas da Working Families, o trabalho flexível ainda é visto como um favor ou uma regalia. Ela quer que os empregadores comecem a anunciar os empregos como flexíveis desde o começo.

Ela explica: “Quando estiverem contratando, pensem de verdade no trabalho e no que precisam dessa pessoa, pensem no tipo de trabalho flexível que podem oferecer em vez de fazer mudanças e espremer um trabalho de cinco dias na semana em quatro dias. É isso que acumula problemas em termos de carga de trabalho.”

É uma visão compartilhada pela Equality and Human Rights Commission (EHRC), que alega que tal mudança pode ajudar a eliminar a diferença salarial entre homens e mulheres(8). O grupo sugere que a Grã-Bretanha deve seguir os países escandinavos e oferecer aos pais que trabalham níveis mais altos de licença paternidade paga(9). Isso pode fazer com que mais homens solicitem acordos de trabalho flexível, o que ajudaria a aliviar a pressão sobre as mulheres que sentem a necessidade de usar licenças mais longas ou de desistir do emprego.

Um estudo do Departamento de Sociologia da Universidade de Oxford(10) encontrou resultados similares ao do relatório da EHRC, revelando que quando os homens começaram a trabalhar de forma flexível, os salários por hora de suas esposas aumentaram substancialmente, principalmente das que são mães (14,2% após quatro anos). Os salários por hora dos maridos também aumentaram 7,4% nos quatro anos seguintes.

À procura da felicidade

Uma equipe feliz é 12% mais produtiva do que uma equipe infeliz(11). A terapeuta ocupacional Dra. Roxane Gervais acredita que o trabalho flexível é um passo positivo na melhoria do bem-estar no trabalho.

“O trabalho flexível permite que você tenha tempo para relaxar e viver mais,” ela diz. “Ele também permite que você faça uma pausa para pensar e encontrar uma abordagem diferente e eficaz para lidar com um problema de trabalho difícil. Esse tempo pode ajudar a revigorar o cérebro.”

O mito que diz que o trabalho flexível é uma barreira para a produtividade e pode acabar com a carreira está sendo desmascarado lentamente.

A professora Phyllis Moen, sociologista da Universidade de Minnesota, ajudou a realizar uma pesquisa publicada na American Sociological Review(12) que mostrou, mais uma vez, os benefícios impressionantes do trabalho flexível para os funcionários e as empresas.

O estudo analisou os efeitos de um programa-piloto de flexibilidade no trabalho em uma empresa listada na Fortune 500. Os resultados foram conclusivos: os funcionários que participaram do programa apresentaram níveis mais altos de satisfação no emprego e níveis mais baixos de esgotamento e estresse psicológico em comparação aos funcionários da mesma empresa que não participaram do programa.

“Nossa pesquisa demonstra que os profissionais que podem se expressar sobre o horário e o local onde trabalham não apenas se sentem melhores em relação ao emprego, mas também apresentam menos conflitos a respeito do equilíbrio entre trabalho e família,” explica Moen. “Decisivamente, esses funcionários também são mais eficientes e produtivos no trabalho.”

Ela continua: “Os profissionais de hoje são bombardeados por conselhos sobre como conciliar o trabalho e a família. As pessoas dizem para fazermos ioga, aprendermos a meditar ou verificarmos o e-mail somente duas vezes por dia. Mas as estratégias individuais de sobrevivência não são o suficiente para resolver o problema. Nosso estudo deixa claro o papel importante das iniciativas organizacionais, incluindo programas que promovem maior flexibilidade e controle para os funcionários, além de maior apoio de um supervisor.”

 


Matthew Jenkin é jornalista freelancer britânico e ex-editor do Guardian Careers, site da comunidade do jornal The Guardian para pessoas que procuram empregos e que desejam trocar de carreira

Fontes:

(1) http://worldhappiness.report/ed/2018/

(2) https://flexstrategygroup.com/

(3) https://cebr.com/reports/impacts-of-a-flexible-working-culture/

(4) https://timewise.co.uk/article/press-release-the-rise-of-generation-job-share/

(5) https://www.theguardian.com/women-in-leadership/2014/apr/24/flexible-working-career-progression-work-life-balance

(6) https://www.familyfriendlyworkingscotland.org.uk/resources/FINAL-Results-paper.pdf

(7) http://www.merryck.com/wp-content/uploads/2016/02/BAIN_REPORT_The_power_of_flexibility_Boosting_gender_parity.pdf

(8) https://www.equalityhumanrights.com/en/our-work/news/shake-working-culture-and-practices-recommended-reduce-pay-gaps

(9) https://www.theguardian.com/society/2017/mar/28/improve-shared-parental-leave-to-cut-gender-pay-gap-urge-mps

(10) http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0950017017708161?journalCode=wesa

(11) http://www.smf.co.uk/wp-content/uploads/2015/10/Social-Market-Foundation-Publication-Briefing-CAGE-4-Are-happy-workers-more-productive-281015.pdf

(12) http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0003122415622391