Tendências

O compartilhamento de cargos de gestão traz vantagens para as empresas?

Tempo de leitura:  4 Minutos

Quando Alix Ainsley e Charlotte Cherry se candidataram à diretoria de RH da Dyson, elas eram uma equipe.

A proposta de assumir o cargo em conjunto não foi um problema. As duas foram contratadas no ano passado e, hoje, desempenham suas funções em meio-período.

As circunstâncias são atípicas, já que a prática de compartilhar funções é mais comum em cargos que não fazem parte do alto escalão das empresas. Ainda assim, esse caso mostra que a flexibilidade está, pouco a pouco, chegando aos níveis mais altos das empresas.

O aumento de cargos de meio-período cresce lentamente, mas de forma significativa. De acordo com a empresa de recrutamento Timewise, o aumento de vagas de trabalho flexível com pagamento superior a 20 mil libras foi de 9,8% neste ano, em comparação a 8,7% em 2016.

Esse modelo chegou à gestão executiva das empresas, onde 7% das vagas ofereciam trabalho flexível, com quatro dias de trabalho na semana, em vez de cinco, por exemplo.

 

Receita para o fracasso?

A vantagem dos cargos de meio-período para a alta gestão é clara: os salários ainda são relativamente altos, e os profissionais continuam avançando em suas carreiras, mas podem dedicar mais tempo à família e a outros objetivos, o que reduz os riscos de exaustão.

Descobrir se essa flexibilidade é boa para a produtividade é muito mais difícil. 

Seguindo esse esquema, as empresas podem combinar profissionais com habilidades complementares e aproveitar ao máximo o ânimo e a energia dessas pessoas. No entanto, grandes empresas, como Blackberry, Deutsche Bank e Chipotle Mexican Grill, estão voltando atrás nessa prática, dando sinais de que duas cabeças nem sempre pensam melhor que uma. 

Independentemente das condições para duas pessoas compartilharem o mesmo cargo, sempre há riscos de conflitos de personalidade ou divergências quanto à estratégia, o que dificulta a tomada de decisões, confunde as equipes e emperra o avanço. 

Esses problemas ficaram claros na Chipotle, rede especializada em burritos, quando seu fundador e CEO Steve Ells declarou que a empresa estava em busca de simplificação ao anunciar a saída do cofundador Monty Moran em dezembro.

"A Chipotle segue um princípio muito simples: usamos ingredientes de ótima qualidade e seguimos técnicas clássicas para prepará-los e servi-los exatamente de acordo com o gosto do cliente", Steve afirmou na época. "Embora seja uma ideia simples, as operações ficaram muito complicadas."

 

Uma questão de percepção

A Chipotle já estava passando por momentos difíceis decorrentes de um escândalo de contaminação alimentar. No caso do Deutsche Bank e da Blackberry, seus infortúnios certamente estavam mais relacionados à crise financeira global e à inovação tecnológica, respectivamente, do que ao compartilhamento dos cargos de gestão.

O que podemos constatar desses casos é que, quando surgem problemas, as estruturas menos tradicionais de gestão são os primeiros alvos dos investidores. Os modelos com mais de um CEO podem ter sido vítimas de uma questão de percepção, fortalecida pelo medo do incomum, e não de problemas reais relacionados ao compartilhamento do cargo. 

Diversas empresas de grande porte ainda estão tendo sucesso com mais de um CEO, como a gigante de software Oracle e a operadora de shopping centers Westfield. Outras empresas estão oferecendo cargos de meio-período a altos executivos. Por exemplo, Katie Bickerstaffe, CEO da Dixons Carphone no Reino Unido e na Irlanda, tem a sexta-feira livre para passar tempo com os filhos.

Em termos gerais, os avanços tecnológicos estão tornando mais viável ter dois profissionais compartilhando o mesmo cargo. As redes de banda larga de alta velocidade e a proliferação dos dispositivos móveis facilitam o contato entre os profissionais; assim, a presença deles no escritório não é mais tão necessária.

Uma pesquisa realizada neste ano pela Korn Ferry entrevistou mil profissionais que trabalham com contratações e descobriu que, nos próximos cinco anos, o fator flexibilidade será mais importante do que o salário e a cultura da empresa para quem estiver procurando emprego. 

 

Caminho para o sucesso

O mais importante é escolher os parceiros certos. Como os riscos no nível executivo são muito altos, os profissionais deste escalão precisam saber se comunicar muito bem e deixar o ego de lado. 

Por isso, as empresas que estiverem contratando esses profissionais podem investigar se eles interagiam bem com as pessoas nos cargos anteriores. Alix e Charlotte, por exemplo, já tinham compartilhado outros cargos seniores em departamentos de RH por mais de quatro anos, no Lloyds Bank e na GE Capital, antes de se candidatarem para a Dyson.

As empresas também podem sacrificar os custos de um dia a mais de trabalho para aproveitar ao máximo esse modelo de cargo compartilhado. Cada um dos profissionais pode trabalhar três dias por semana no cargo, resultando em um custo de seis dias de trabalho para o empregador, assim os dois profissionais podem se encontrar na empresa uma vez por semana para que a colaboração fique mais eficiente.

Dependendo das habilidades individuais, cada profissional pode assumir tarefas específicas ou os dois podem dividir as mesmas tarefas igualmente.

Manter um padrão de serviço também é fundamental; por isso, independentemente da senioridade, os parceiros devem pensar na possibilidade de usar o mesmo e-mail ou telefone para garantir uma experiência consistente.

O mais importante para o sucesso, é que esses profissionais precisam ser muito bons no que fazem. 

Mesmo que a desconfiança não seja justificável, o conceito de compartilhamento de cargos de alto escalão ainda precisa lidar com a questão da percepção. Por isso, um elemento crucial para o sucesso é encontrar parceiros que apresentem um desempenho sensacional.