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Talento sem fronteiras: um admirável mundo novo

Tempo de leitura:  3 Minutos

As fronteiras não devem impedir o recrutamento do profissional ideal. Segundo Matthew Gwyther, as empresas precisam ver o mundo do trabalho com mais flexibilidade

 

A mobilidade dos talentos está maior do que nunca. Apesar de corresponderem a apenas 13% da população, os migrantes agora criam mais de um quarto das novas empresas nos EUA(1). No Vale do Silício, 57% dos empregos mais bem pagos são ocupados por pessoas que não nasceram nos EUA.

No Reino Unido, após alguns minutos na Silicon Roundabout, em Londres, é possível perceber que o setor tecnológico local é formado por pessoas de diferentes nacionalidades. No quadro de funcionários do escritório do Facebook em Londres, por exemplo, há pessoas de 65 nacionalidades.

Ainda assim, há muitos sinais de que a impressionante onda de globalização que vivemos pode estar chegando ao fim. Também há sinais de que os caminhos estão se fechando. Uma nova onda de comportamentos nacionalistas e protecionistas está surgindo, fomentada por diferentes grupos, como profissionais do setor siderúrgico nos EUA, pescadores no Reino Unido etc.

Os efeitos não se limitam à transferência internacional de bens e serviços. O deslocamento relativamente livre de pessoas, que chamamos de capital humano, provavelmente sofrerá restrições.

Um dos resultados será não ter mais aquelas pessoas que você quer na sua empresa – os talentos que são a força vital da maioria dos negócios – morando próximo ao escritório ou residindo no mesmo país.

Em fevereiro deste ano, a Grã-Bretanha limitou os vistos para profissionais não europeus. Foi o terceiro mês seguido dessa limitação, algo nunca visto antes. Isso agrava a crise dos quadros de funcionários do serviço nacional de saúde britânico e de outras instituições importantes. Quando a cota foi alcançada em dezembro e janeiro pela primeira vez em sete anos, especialistas em imigração esperaram que tudo logo voltasse ao normal, mas agora temem que o problema seja permanente.

Benefícios flexíveis

E o que pode ser feito? Uma consequência inevitável dessa onda de protecionismo é que as empresas precisarão repensar a alocação de suas equipes em diferentes continentes. O mundo do trabalho, que hoje já é muito mais fluido do que há duas décadas, deve passar por transformações ainda mais liberais.

Isso é apenas uma das características da gig economy que está se desenvolvendo, e à qual muitos profissionais da geração Y já estão se acostumando. Na verdade, em vez de ser um incômodo, a flexibilidade é considerada um atrativo e um incentivo para manter a satisfação dos talentos.

Silicon Roundabout em Londres

A Silicon Roundabout em Londres é o centro tecnológico do Reino Unido

 

Um estudo recente realizado por recrutadores do PageGroup(2) descobriu que os profissionais da geração Y esperam condições de trabalho flexível como algo padrão, não como benefício adicional. Ao responder sobre os benefícios que desejavam receber em cinco anos, 67% dos entrevistados responderam horários flexíveis, 57% responderam local de trabalho flexível e 54% responderam menos dias de trabalho por semana. Além disso, os benefícios compensação de horas (49%) e licenças do trabalho (41%) também apareceram na lista. Diversos estudos também mostram que as mulheres, principalmente mães de crianças pequenas, preferem o trabalho flexível a aumentos de salário.

Na guerra pelos talentos, com o risco de danos à mobilidade internacional, a flexibilidade é essencial para conseguir os melhores profissionais. Steve Jobs resumiu a importância dos talentos com este conselho: "Procure a nata da nata. Uma equipe pequena só com os melhores profissionais pode fazer muito mais do que uma equipe grande com profissionais medianos." O guru da gestão, Jim Collins, concorda. Ele afirma que a maior limitação para o sucesso de uma empresa é a capacidade de conquistar e reter os talentos certos.

Possibilitar que os colaboradores vivam e trabalhem onde preferirem pode ser uma forma de conquistar e reter os profissionais certos. Abrir o notebook em um lugar diferente em vez de estar sempre na mesma estação de trabalho ´´e o novo padrão. Para as empresas que querem ter acesso aos melhores talentos, oferecer essa possibilidade está se tornando fundamental. O trabalho ágil, com base em atividades, e o fenômeno mais recente do coworking são duas das mudanças mais profundas dos últimos cinco anos no espaço de trabalho. Esses aspectos devem ganhar ainda mais importância nos próximos anos no que diz respeito a garantir o acesso aos maiores talentos, independentemente das fronteiras.


 

Matthew Gwyther foi editor da Management Today e apresenta o programa de rádio In Business na BBC Radio 4

Fontes:

(1) https://www.inc.com/magazine/201502/adam-bluestein/the-most-entrepreneurial-group-in-america-wasnt-born-in-america.html

(2) https://www.pagepersonnel.co.uk/our-expertise/finance-recruitment/flexible-working-key-retaining-talent